Estamos no início de mais uma época desportiva. Em Portugal, os clubes fazem contas à vida para que consigam cumprir com os compromissos rubricados para os próximos dez ou onze meses. Em tempo de crise, é isto que se exige a todos, sob pena de, rapidamente, se cair no “velhinho” cenário dos salários em atraso, pese embora não acredite que tal flagelo não venha a acontecer.
Nos Açores, o futebol encontra-se, igualmente, mergulhado numa enorme crise, com a maior parte dos clubes a sentirem enormes dificuldades para manterem as suas portas abertas.
Exemplos não faltam. Os históricos Lusitânia e União Micaelense vivem uma das piores fases das suas vidas. As dívidas acumulam-se, há atletas com um longo historial de salários em atraso, os credores não param de lhes bater à porta, enfim, acaba por ser desolador o que naquelas colectividades se vive. E quem disser o contrário estará a mentir, ou então está a tapar o “sol com a peneira”. Quem anda neste mundo sabe que o que acabei de dizer é a mais pura das verdades e não mera invenção, ou muito menos resultado de fervor clubístico por qualquer outra agremiação desportiva regional.
Aliás, ao Lusitânia e ao União Micaelense juntam-se muitos outros, alguns dos quais ainda estão em actividade, enquanto outros, infelizmente, já foram obrigados a encerrar.
Poder-me-ão dizer: a culpa é do modelo competitivo a que os clubes açorianos aderiram. Admito que sim, mas a verdade é que é o que existe e não vislumbro que a Federação Portuguesa de Futebol – entidade responsável pelos campeonatos nacionais não profissionais – se prepare para o alterar.
A verdade, porém, é que os clubes açorianos sempre viveram muito acima das suas possibilidades, sempre fiados nos subsídios públicos e na “misericórdia” de um ou outro sócio mais abonado.
Não concebo como, por exemplo, um clube que milita na terceira divisão (Série Açores) pode pagar 500, 600 ou até 1.000 euros de ordenado a um jogador. Mas onde têm a cabeça os dirigentes que avançam para contratos deste tipo? Por acaso, terão descoberto alguma mina? Claro que não. Fazem-no com sonhos de que o seu clube atinja este ou aquele patamar do futebol nacional o que, obviamente, acaba por invariavelmente não se cumprir. Claro que quando o sucesso desportivo não acontece, e como as receitas não aumentam, surge o efeito “bola de neve”. As dívidas vão-se acumulando, vão passando de época para época, até que acabam por ditar o encerramento da actividade, pelo menos no que toca aos escalões mais velhos.
Depois, é tempo de recolher cacos, de criar equipas nos escalões mais novos – novamente em busca dos apoios da Direcção Regional do Desporto – até que outro qualquer dirigente iluminado resolva começar a trilhar o caminho da loucura. É sempre assim. A história repete-se com A, B ou C e termina invariavelmente da mesma forma.
Perante isto, o futuro é negro, a não ser que os responsáveis finalmente se consciencializem que têm de dar passos seguros rumo à sustentabilidade e aqui reservo-me a direito de não apontar qualquer exemplo para não dizerem que estou a “puxar a brasa à minha sardinha”.
Mas a verdade é que, e até nem é preciso andar muito, para perceber que já há no futebol dos Açores quem finalmente tenha enfrentado a realidade. Olhe, sem clubismos, vejam o caso do Angrense, na Terceira, e de vermelho equipado, na Região, há mais quem já tenha compreendido que o segredo está em comprar barato, pagar ordenados adaptados à realidade e depois vender por valores que permitam, gradualmente, abater os passivos acumulados das más gestões.
Até para a semana
Pedro Botelho
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