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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Centrais altos e espadaúdos

Há quem diga que os atributos físicos dos jogadores têm relevância no que concerne à posição que ocupam em campo. Não me quero delongar em excesso, pelo que queria apenas falar sobre defesas centrais. Estas pessoas acham que, num central, a altura é determinante. As mesmas doutas pessoas advogam que pode haver excessões (como um Cannavaro), mas essas são raras. E numa dupla de centrais, um mais baixo deve ser sempre compensado por um mais alto. Essas pessoas acham, portanto, que os atributos físicos são o mais importante quando se determina a posição de um jogador. Provavelmente, acharão que um extremo tem de ser obrigatoriamente rápido.

O argumento, no que diz respeito aos centrais, é que jogam numa posição em que é determinante ganhar bolas de cabeça e defendem-se dizendo que centrais baixos, como Cannavaro, compensam com uma impulsão extraordinária. Ou seja, essas pessoas creêm que, ou se tem altura, ou se tem impulsão. Isto porque um defesa deve ser capaz de ganhar bolas de cabeça. Queria dar um exemplo que manda isto tudo às favas. O Inter de Mourinho ganhou hoje por 4-0 à Roma. Jogaram a central Chivu e Córdoba, uma dupla de centrais com uma média de altura claramente inferior a 1,80 metros. Como médio-defensivo, numa posição onde, para muitos, sobretudo contra equipas que jogam um futebol mais directo, se deve dar importância à altura, Mourinho apresentou Cambiasso, um jogador também abaixo dos 1,80 metros. Ou seja, o Inter jogou com três jogadores relativamente baixos nas posições onde, por norma, se diz que é importante haver altura. E ganhou. E goleou. E não teve problemas por causa disso. E é primeiro no campeonato. Chama-se "jogar futebol", para quem não souber.

Onde outros precisam da altura de Meira para jogar contra Suécias, Mourinho precisa de jogadores que se saibam posicionar e que ofereçam qualidade suficiente no processo ofensivo. A altura não é um atributo fundamental num defesa. Há muitos e bons defesas que foram ou são relativamente baixos: Baresi, Cannavaro, Córdoba, Chivu, Ricardo Carvalho, Daniel Carriço, etc. E isto porque ganhar bolas de cabeça é francamente menos importante que um bom jogo posicional colectivo que permita ganhar as segundas bolas. Mourinho continua a dar lições, mas poucos lhe prestam atenção. Continua a achar-se, por exemplo, que contra equipas que têm jogadores altos na frente e jogam um futebol directo para eles, é necessário ter altura. Mas a altura não se combate com altura. Combate-se com bom posicionamento, com velocidade de reacção, com jogadores capazes de preencher os espaços nos quais vão cair as segundas bolas. É por isso que seria perfeitamente possível ter dois Moutinhos a central, isto é, dois jogadores com a envergadura de Moutinho. Não é a altura que faz um central, como não é a velocidade que faz um extremo. São as disposições intelectuais, as rotinas de jogo, a desenvoltura própria da habituação à posição, etc.

Para terminar, uma pequena referência à forma de trabalhar de Mourinho. Para muitos, Mourinho dá importância aos atributos físicos. Mas o exemplo dos centrais, bem como do médio-defensivo, vem desmentir tudo isso. Ou seja, se nas equipas de Mourinho há jogadores de boa estampa física, ou jogadores altos, ou jogadores rápidos, ou jogadores fortes, ou jogadores agressivos, ou jogadores muito dotados tecnicamente, é coincidência. Aquilo que não há é jogadores burros. E os que há são despachados em negócios que envolvem a transferência de outros atletas. O primeiro critério na escolha dos jogadores de Mourinho são as disposições intelectuais. Jogar com Córdoba, Chivu e Cambiasso evidencia isso. Aquilo que importa em Muntari não é a força; a força é apenas um acrescento. E um acrescento que uma equipa com dinheiro pode dar ao luxo de adquirir. O que não pode faltar é inteligência, é capacidade de perceber o jogo. O que importa em Ibrahimovic não é a altura nem a capacidade técnica; o que importa em Drogba não é a força; o que importa em Essien não é o pulmão. Isso são acrescentos. O que importa é a saúde mental, são as boas decisões, a qualidade das opções, etc. Tirando os extremos, Mourinho pretende jogadores essencialmente inteligentes. E prefere-os mesmo que eles não possuam os atributos físicos ou técnicos que melhor os potenciem.

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