O Santa Clara deu, no passado domingo, um grande tropeção na luta pela subida à Liga Vitalis. Na Trofa, os encarnados foram copiosamente batidos pelo Trofense, por cinco bolas a duas, e a primeira liga ficou claramente mais longe. Tanto mais porque, em caso de vitória, a equipa de Vitor Pereira tinha passado a depender de si própria para alcançar o objectivo a que se propôs no início da temporada.
Apesar de na blogosfera todos quererem crucificar o treinador e jogadores encarnados, friamente faço outra análise deste desaire: o Santa Clara perdeu porque foi ambicioso.
Teria sido fácil, quando o jogo estava empatado a dois golos, ter segurado o “pontinho”. Mas não. Vitor Pereira, como todos os técnicos ambiciosos, quis ganhar. Perdeu, é verdade, mas não é por isso que é agora um mau treinador. No futebol, como a vida, quem não arrisca não petisca. O treinador do Santa Clara decidiu, a meu ver bem, arriscar. A aposta saiu-lhe falhada, mas nem por isso merece ser crucificado. Criticar é fácil, mais difícil é fazer.
As pessoas que têm como passatempo predilecto falar mal do Santa Clara e empurrar o clube para baixo ainda não perceberam o alcance de uma possível subida à liga principal. Provavelmente, pensarão que a promoção ao primeiro escalão do futebol português só beneficiará o próprio clube. Obviamente, estão enganados.
A Região atravessa um momento económico difícil. No sector do turismo, os números caem todos os meses. Existem unidades hoteleiras encerradas durante o Inverno, a restauração está vazia, o comércio está nas ruas da amargura e os rostos dos micaelenses estão cada vez mais fechados, sinal claro das preocupações que lhes assomam o espírito.
Sendo assim, por que não havemos de torcer para o Santa Clara subir de divisão? Esqueça-se o passado, as paixões clubísticas e o bairrismo, e pense-se nos frutos que podemos recolher desta promoção.
Já pensaram que os Açores só são falados no Continente pelos piores motivos. Quando por cá acontece uma desgraça, lá salta o Arquipélago para as manchetes dos jornais e para os noticiários televisivos. De resto, nada. A Região não passa disto, mesmo para os continentais: nove ilhas separadas por umas quantas milhas aéreas, de difícil acesso, devido ao preço das passagens aéreas e nas quais, dizem eles, não se passa nada.
Claro que é mentira. Em muitos aspectos, os Açores deveriam ser um exemplo para os continentais. Mas a verdade é que não o são. A maior parte deles nem nos conhece. Alguns até julgam que, quando a maré está baixa, se atravessa de ilha para ilha, arregaçando as calças. Riam-se, mas é pura da verdade.
Agora, pensem num Arquipélago que é falado todos os dias devido ao futebol. Vejam aviões cheios de gente para virem a apoiar os seus clubes nos jogos frente ao Santa Clara. Há, ou não, benefícios? Claro que os há. Ganha a hotelaria, a restauração, o comércio e o clube (claro). Ganhamos todos. A mesquinhez de alguns não pode ser lei.
Eu acredito que o Santa Clara vai subir e que os Açores com isso vão ganhar nova projecção. Estarei errado? Não me parece.
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