“ (…) Não é tarefa difícil falar do Santa Clara. E não o é, porque a sua história poderia dar, à vontade, matéria para mais de um livro, desde que quem o quisesse escrever partisse desta premissa: VERDADE E A JUSTIÇA”
A 31 Janeiro de 1935, depois de, qual caracol, o Clube Desportivo Santa Clara durante os seus primeiros oito anos de vida ter ocupado outras tantas sedes, foi oficialmente inaugurada, no nº21 da então Travessa dos Mártires da Pátria – hoje Rua Comandante Jaime de Sousa – aquela que desde então se mantém como a sede do actual maior clube de futebol dos Açores. Se a coincidência de oito anos / oito sedes dá uma média de uma sede por ano, a realidade é bem diferente do que à primeira vista aparenta, pois a permanência efectiva do Clube Desportivo Santa Clara em cada uma das sedes por onde passou variou de pouco mais de um mês (Rua do Brum; Junho e Julho de 1927, e Rua de Lisboa; Junho e Julho de 1931) a mais de 24 meses (Rua Luís Soares de Sousa; Julho de 1927 a Novembro de 1929, e 2ª Rua de Santa Clara; Março de 1932 a Maio de 1934).
Para uma melhor compreensão desta itinerância, aqui fica a relação cronológica detalhada das sedes usadas pelo Clube Desportivo Santa Clara ao longo dos seus primeiros oito anos de vida: Rua do Brum, 38 (Junho e Julho de 1927); Rua Luís Soares de Sousa, 41 (de Julho de 1927 a Novembro de 1929); Travessa da Conceição – em partilha com a LDM (Novembro de 1929 a Junho de 1931); Rua de Lisboa – em partilha com o Sport Club Santa Clara (Junho e Julho de 1931); Rua Direita de Santa Clara (de Julho de 1931 a Março de 1932); 2ª Rua de Santa Clara (de Março de 1932 a Maio de 1934); Rua Machado dos Santos, 43 (de Maio a Dezembro de 1934) e Travessa dos Mártires da Pátria, 21 (inaugurada oficialmente a 31 Janeiro de 1935).
No ano seguinte, naquela em que pela primeira vez no Clube Desportivo Santa Clara se associou o 31 de Janeiro a um aniversário, em brilhante festa que reuniu ilustres convidados, foi comemorado o primeiro aniversário da “nova sede”: fez ontem exactamente 75 anos!
Outra importante celebração de “bodas de diamante” no Clube Desportivo Santa Clara ocorrerá ainda durante este ano, a 25 Junho, altura em que decorrerão os 75 anos da eleição do Sr. Diniz José da Silva, terceiro presidente da Direcção do Clube Desportivo Santa Clara, um nordestense de rija tempera que dando continuidade à longa passagem do Capitão Eduardo Reis Rebelo pela direcção do clube (1927/1935) e à do Dr. Alberto Paula de Oliveira que se lhe seguiu (1935/36), apesar de receber o Clube Desportivo Santa Clara numa difícil situação financeira, com “vistas amplas” e grande capacidade de gestão e organização, rasgando horizontes, foi o principal responsável pela abertura que o já então clube de futebol dos Açores com maior número de associados passou a dar a outras actividades para além do futebol – Excursões, Música, Dança –, dotando-o de hábitos e meios com os quais foi possível mais tarde criar um importante grupo dramático, e com o Teatro resistir, subsistir, e até reforçar-se, enfrentando os difíceis tempos que se seguiram, altura em que até a Associação de Futebol se refugiou na sede do Clube Desportivo Santa Clara, nela ficando como inclina bem para além de Julho 1942 / Abril 1945, período em que o futebol oficial esteve inactivo em São Miguel.
Usando recorrentemente como bordão de oratória apelos à Verdade e à Justiça, é de Diniz José da Silva, inserta numa publicação do Clube Desportivo Santa Clara distribuída aos sócios na década de sessenta a propósito de um dos aniversários, uma frase que tenho sempre presente nestas ocasiões: “ (…) Não é tarefa difícil falar do Santa Clara. E não o é, porque a sua história poderia dar, à vontade, matéria para mais de um livro, desde que quem o quisesse escrever partisse desta premissa: VERDADE E A JUSTIÇA”.
Integrando desde a primeira hora as hostes do Clube Desportivo Santa Clara, e tendo acompanhado mais ou menos de perto a vida dos dois “Santa Claras” antes dele filiados na Associação de Futebol, é fácil perceber como Diniz José da Silva sabia do que falava e tinha razão – facto que se mantém.
J. P. Melo
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